27 julho 2007

O Segundo Caminho dos Lírios

você deseja Audrey? ela desperta alguma paixão insensata em você? os olhos dela o atraem para um mar cor de mel? então use suas palavras mais belas, limpas e desconcertantes.

Audrey pode ser enfeitiçada por elogios simplórios, por compaixão comedida, pelo assombro de um olhar ousado. ela é capaz de esvair-se em gozo ao lento toque de uma mão cálida. um terremoto atinge sua casa de gelo. as defesas se derretem, o sorriso é evidente e o prazer é imediato.

sim, ela é suscetível a gentilezas baratas, a gestos impensados, a suspiros inaudíveis. seu interior reverbera uma alegria magnânima, que desfalece ao ouvir uma voz. voz que a puxa para a terra, onde Audrey anseia, cada vez mais, desprender suas raízes.

Audrey quer ser tocada. toque-a e passeie por um universo sinestésico, mágico e ardente. surpreenda-a antes que ela pense na improbabilidade do momento. é assim que ela quer. é isso o que procura.


"Please Send Me Someone To Love" - Sade

24 julho 2007

É Sério...

..., precisa-se de um pisciano.

... que ame de verdade uma canceriana.

... e que seja aprovado por Audrey.

Pois Audrey sabe o que diz.


"I Miss You" - Björk

"Eu Quero Ver Você Dançar Em Cima de uma Faca Molhada de Sangue..."

sente-se lasciva. a luxúria é quem respira por seus poros, que latejam ao mais perceptível aroma de prazer. seu sexo não quer mais esconder-se sob as roupas ou sob os gestos polidos e educados.

encontrar seu oposto, seu complemento: esse é o único objetivo de seu hoje. encaixar-se em um falo poderoso e cálido é sua fantasia imutável, que somente cresce a cada dia. febril, ela abdica de seus pudores e olvida os próprios princípios de castidade e lealdade ao seu coração. ela quer apenas ter o gozo de pertencer, raivosa e avidamente, a um corpo maior que o seu, um corpo de estrutura firme e maciça, perfumado, aconchegante... orvalhado de torpor orgásmico.

orgasmo latente.

ela desenha: as línguas tocam lugares proibidos. as mãos, desesperadas, não encontram sossego. lutam contra o esmo, estacionando aleatórias na pele alheia, perdidas em delícias insasiáveis. perde-se a ordem. os cabelos emaranhados pelo roçar no travesseiro ensaiam uma brava rebeldia diante do calor abafado e selvagem.

os pés enlaçados esfregam-se com paixão, ansiosos pelo toque brusco das unhas e dos calcanhares. os sussuros alimentam o ritmo hipnótico do coito, que segue incessantemente em meio à escuridão do quarto e da madrugada. os corpos e os sexos já não se separam mais. são moradias mútuas, infinitas, sôfregas, gêmeas... onde só habitam o gozo e o deleite pelo líquido de seu objeto de desejo.

Novela Mexicana

você disse que queria ir embora. deixei a porta aberta. joguei a chave fora. não impedi sua saída. você relutou. parecia pedir-me, com um olhar inquieto e fugidio, para que o barrasse. não quis. você ainda me amava, eu sabia, mas não como me era necessário. eu... eu te sentia sempre. tinha-o comigo, mesmo que não em presença física. nossos dias foram únicos, cálidos como o sol de outono. ríamos um do outro tontamente, sem razão nem lei. suas mãos encaixavam-se nas minhas como peças incompletas. andavámos pelas ruas invisíveis, invisíveis para a chuva e para os estranhos. as canções que compartilhávamos eram desconhecidas, as guardávamos secretamente, como se fossem só nossas. eram elas que enfeitavam nossas horas de ócio e gozo, na rede, no chão, na água. mas você queria ir embora. e eu deixei. disse que não voltaria atrás. você não se controlou. horas depois apareceu novamente, como se nada tivesse acontecido. como se não descobrisse minha vergonha e meu luto.

e você voltou.

V

Hoje o seu pesar
Era tanto
Que até fazia sombra
E já era tarde e triste
Como trilhar os mesmos
Velhos caminhos
Esperar a esperança
talvez
Suas ambições ordinárias
Divergem da alma
Privilegiando esse remorso
O corpo se resume
Em roxas olheiras
E ela sem vontade de camuflá-las
São uma extensão
Desse espasmo do nada
Detalhes das desilusões
Que consome
parte do tempo
Que lhe cabe
Ela está exposta
Mesmo no obscurantismo
Que pretende estar
mergulhada
Ainda que é ser humano
Vulnerável à vida.

palavras belas de uma amiga única, que é gêmea em pensamento e em coração.
N.

23 julho 2007

Ontem e hoje

" ...
do amor, amuleto que eu fiz
deixei por aí
descuidei dele, quase larguei
quis deixar cair
tsc tsc
... "
"Paquetá" - Los Hermanos

08 julho 2007

2

voltou a pensar em par. a comida pronta para dois, travesseiros lado a lado, relógios pontualmente gêmeos. as sombras, unidas pelas bocas e pelas mãos, eram ilustrações para as paredes coloridas.
o perfume do outro espalhado pelos cômodos, e a música como moradora de número três.
os dias pareciam ser mais acolhedores, sorridentes. as noites, completas.
minha vida tem par.

07 julho 2007

ela, mulher

"I. Ela não queria anotar a reunião na agenda. Torcia para que não chegasse nenhum convite, nada que a obrigasse a tomar notas, sinalizar alertas e avisos. Ao final do ano, recolhia a agenda vazia, intacta, quase sem marcas, e sorria orgulhosa de não ter feito nada. Sentava à sua mesa na varanda, chiava lentamente a xícara de café, abria o passado e escrevia seus poemas como lembranças que se atrasavam".
Trecho de "Mulheres", do livro "O Amor Esquece de Começar", de Fabrício Carpinejar