24 julho 2007

Novela Mexicana

você disse que queria ir embora. deixei a porta aberta. joguei a chave fora. não impedi sua saída. você relutou. parecia pedir-me, com um olhar inquieto e fugidio, para que o barrasse. não quis. você ainda me amava, eu sabia, mas não como me era necessário. eu... eu te sentia sempre. tinha-o comigo, mesmo que não em presença física. nossos dias foram únicos, cálidos como o sol de outono. ríamos um do outro tontamente, sem razão nem lei. suas mãos encaixavam-se nas minhas como peças incompletas. andavámos pelas ruas invisíveis, invisíveis para a chuva e para os estranhos. as canções que compartilhávamos eram desconhecidas, as guardávamos secretamente, como se fossem só nossas. eram elas que enfeitavam nossas horas de ócio e gozo, na rede, no chão, na água. mas você queria ir embora. e eu deixei. disse que não voltaria atrás. você não se controlou. horas depois apareceu novamente, como se nada tivesse acontecido. como se não descobrisse minha vergonha e meu luto.

e você voltou.

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